Desde pequena, uma menina chamada Edinice reparava no prédio da Rua Assis Figueiredo, 1131, em Poços de Caldas. A porta grandiosa, as carrancas de leões e as estátuas de águias chamavam sua atenção; sua e de quem passasse pelo Centro.
O casarão de esquina foi construído para ser sede do Banco do Comércio e Indústria de São Paulo, mas naqueles dias abrigava uma loja de eletrodomésticos. “Ele ainda não estava tão bonito quanto hoje”, ressalta, “mas já era um destaque.”
Edinice Lino Pereira da Silva nasceu em Guaraciama, MG, mudando-se para Poços com dois anos. Sempre morou na zona sul, área que se expandiu a partir da industrialização dos anos 1970. Não era uma região de mansões e ali não moravam pessoas de posses.
Com a perda do pai, aos quinze anos, a rotina da casa sofreu uma viravolta, e ela teve que ajudar nas economias. Foi manicure, babá, camareira no Hotel Vilage e vendedora. À noite, ia para a escola. “E sempre que dava eu fazia um curso.” Gratuito, claro. Pagar não era algo que estivesse ao seu alcance.
Foi assim que, em 2010, ela ganhou um curso de farmácia no Instituto Meta de Ensino. Não era exatamente a área de sua predileção, mas o fez mesmo assim. Foi a sorte. Meses depois perdeu o emprego e soube da abertura de uma vaga no setor. Onde? No mesmo prédio que via no tempo dos passeios de criança. Nesse mesmo ano, a Drogasil se mudava para lá. Edinice começou trabalhando no horário da madrugada, porém logo teve a oportunidade de ser trans- ferida para a tarde. Não quis. Fez questão de concluir o curso técnico e consolidar a formação. Na solidão do turno, contemplava o silêncio através das grandes jane- las em arco que davam para a rua.
Nesse período engravidou do filho, Felipe, e trabalhou até o último instante antes do parto. O dia parecia não ter horas para tantas responsabilidades, mas sua mãe a ajudou e ela foi em frente. Manhãs, tardes e noites estavam tomadas.
O novo desafio foi o vestibular para a faculdade de Farmácia, e ela passou. Tornou-se então atendente 2, trabalhando no balcão, e logo depois foi promovida a supervisora. “A Drogasil é uma empresa formadora”, diz. “As pessoas têm oportunidades e podem evoluir se tiverem disposição para aproveitar as chances.”
Ela teve. Continuou acordando cedo e dormindo tarde até conquistar o diploma. Era 2020. Nove anos atrás nada disso teria passado pela sua imaginação.
Hoje Edinice continua a atender. Não só clientes, mas também transeuntes, amigos e até turistas. “Muita gente entra aqui somente por causa da beleza do prédio, e nós conversamos com o maior prazer. É outra alegria que a gente tem aqui no trabalho.”
A vida agora está menos atribulada, e ela ganhou algo que não tinha há anos: uma fração do dia. É um tempo que pode dedicar à mãe ou ao filho. Talvez até a si mesma.